quinta-feira, 14 de maio de 2009

O Sexo do seu Cérebro

Qual Será o Sexo do Seu Cérebro?

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As diferenças no corpo de homens e mulheres estão além da aparência e dos órgãos sexuais. A ciência detectou que até o cérebro apresenta características femininas ou masculinas. Essa diferença neurológica gera diferenças de comportamentos, sentimentos e modos de pensar entre homens e mulheres.

Você consegue saber se seu amigo está triste ou irritado só de olhar para ele? Essa é uma característica de um cérebro feminino. Mas um homem também pode ter essa sensibilidade e outros comportamentos geralmente ligados a um cérebro feminino. Isso porque a sexualidade cerebral não está ligada diretamente ao sexo do corpo. “O sexo do cérebro é determinado pela quantidade de testosterona [hormônio masculino] a que o feto fica exposto no útero. Em geral, homens recebem doses maiores do que as mulheres. Mas isso varia e nós ainda não sabemos exatamente por quê”, diz a ÉPOCA a neuropsicologista Anne Moir, da Universidade de Oxford, na Inglaterra.



A diferença entre o cérebro dos dois gêneros tem raízes evolutivas. Segundo Moir, durante o desenvolvimento dos seres humanos, como o homem era o caçador, desenvolveu um cérebro com habilidades manuais, visuais e coordenação para construir ferramentas. Por isso, um cérebro masculino tem mais habilidades funcionais. Já as mulheres preparavam os alimentos e cuidavam dos mais novos. Elas tinham que entender os bebês, ler sua linguagem corporal e ajudá-los a sobreviver. Elas também tinham que se relacionar com as outras mulheres do grupo e dependiam disso para sobreviver na comunidade e, por isso, desenvolveram um cérebro mais social. Os homens, por sua vez, lidavam com um grupo de caçadores, não precisavam tanto um do outro e se comunicavam menos, apenas com sinais.

Moir acredita que a diferença de sexo entre cérebro e corpo pode estar ligada às causas do homossexualismo. “Se a concentração de testosterona no útero está mais baixa do que o padrão para os homens, então o 'centro sexual' do cérebro será feminino e esse homem sentirá atração por outros homens. Se a concentração desse hormônio estiver alta, o 'centro sexual' será masculino e ele sentirá atração por mulheres”, diz Moir.

O Universo Alternativo Gay de SP

Sex n' the city
Nu e cru, o universo dos michês, profissionais da noite que povoam o centro de SP

Sábado, 23 de novembro de 2002. Há apenas três dias em São Paulo e hospedado num hotelzinho no centro da cidade, Klau*, 23 anos, um ex-trabalhador rural, dirige-se à Rua do Arouche para mais uma noite em seu novo emprego. Não era exatamente o que ele havia sonhado quando abandonou sua antiga função numa fazenda de gado em Minas Gerais, onde ganhava R$ 300 por mês: o trabalho em São Paulo não podia ser executado no período diurno, não tinha expediente e nem rendimento fixo, era alvo de inúmeros estigmas e não podia ser mencionado para a maior parte das pessoas. Klau tornou-se garoto de programa.Vida noturna, homossexualidade e prostituiçãoA história de Klau, embora guarde algumas particularidades – ele pegou carona com um carreteiro que o deixou na Rodovia Fernão Dias, chegou à cidade de ônibus e foi assaltado perto do Terminal Rodoviário do Tietê por bandidos que lhe levaram roupas e os R$ 260 que trazia –, possui, como veremos mais à frente, inúmeras semelhanças com a de outros profissionais do sexo que ocupam a Praça da República, o Largo do Arouche e suas redondezas diariamente, em busca de rendimentos junto às pessoas que lotam os bares, cinemas pornôs, ruas e casas noturnas da região.A área entre a Praça da República e o Largo do Arouche, na zona central de São Paulo, faz parte do circuito GLS tradicional da cidade, que compreende ainda um “bolsão” delimitado pela Avenida Rebouças, Rua da Consolação, Avenida Paulista, Rua Oscar Freire e Rua Augusta, na região dos Jardins, e alguns estabelecimentos localizados entre a Avenida Dr. Arnaldo e a Rua Fradique Coutinho, nos arredores de Pinheiros. Embora existam casas GLS em outros lugares, são estas as regiões que concentram o maior número delas e, portanto, onde é maior a ocorrência da prostituição masculina, mesmo que não exclusivamente.A correlação entre a prostituição masculina e a vida noturna gay é óbvia: os garotos de programa vão onde há clientes em potencial, e estes se constituem em homens homo e bissexuais, segundo os próprios garotos. Há mulheres e casais que também buscam os serviços dos michês, mas a incidência é mais rara. Portanto, não é de estranhar que, no circuito República – Largo do Arouche, os garotos de programa sejam mais facilmente encontrados em ruas próximas ou coincidentes às dos bares e boates, sobretudo na Rêgo Freitas, Marquês de Itu, Rua do Arouche e na própria Praça da República. Nos finais de semana, é possível, por exemplo, encontrar um garoto de programa a cada 10 metros, mais ou menos, na Rua do Arouche.O perfil dos michês da região é bem variado, mas, grosso modo, podemos reconhecer dois tipos mais comuns: o primeiro, que se concentra no interior da Praça da República, é formado por rapazes de faixa etária mais baixa, em torno dos 18 aos 22 anos, não raro usuários de drogas e que costumam cobrar programas mais baratos, por volta de R$ 30 ou menos, muitas vezes como forma de sustentar o vício. Esse grupo sofre um assédio mais constante da Polícia, que monitora o interior da Praça, e atende principalmente transeuntes à tarde; o segundo tipo, que se encontra espalhado pelas ruas, cobra mais caro, em torno de R$ 50 ou R$ 60, muitas vezes pertence a uma faixa etária mais alta (22, 24 ou até 30 anos) e atende principalmente pessoas com carro, à noite. Há também uma forte incidência de migrantes. Este é o grupo em que Klau se encaixa.Menores e melhoresEmbora possamos estabelecer características mais ou menos comuns em termos de um perfil para os michês do Centro, a verdade é que a questão é mais complicada do que parece. A idade, por exemplo, pode ser uma informação falsa, o que ocorre com certa freqüência.Isso porque a existência de menores na prostituição masculina em São Paulo não é um fenômeno raro, como atestam os próprios garotos de programa – tanto em relação a si, quanto em relação a alguns companheiros. Entretanto, é difícil um michê menor revelar sua verdadeira idade. Somente quando mais velho é que revelará, ao certo, com quantos anos foi para as ruas.É o caso de Gustavo, garoto de programa há quatro anos. Atualmente com 19 anos de idade, Gustavo iniciou-se na prostituição aos 15, quando teve sua primeira relação homossexual. Filho de um dono de marcenaria, onde trabalha durante a tarde, o rapaz conta que procurou as ruas por problemas de inserção no mercado de trabalho tradicional: na época, antes de trabalhar com o pai, não conseguia arranjar o primeiro emprego, o que só piorou conforme se aproximava o serviço militar obrigatório. Na marcenaria, os rendimentos são parcos – por trabalho executado –, e a saída é completar o orçamento com a atividade noturna, que exerce durante os finais de semana e lhe garantem um ganho entre R$ 100 e R$ 150 por noite.Outro que começou cedo foi Edmilson, atualmente com 20 anos. A prostituição se tornou realidade aos 17, ainda em sua cidade natal, Foz do Iguaçu (Paraná). Edmilson, que não exerce qualquer atividade diurna, conta que viveu por seis meses com um homem em Foz do Iguaçu e que, após a separação, optou por entrar no mercado do sexo como garoto de programa e, posteriormente, como ator de filmes pornográfico. Foi pensando na segunda alternativa que mudou para São Paulo, mas desistiu da profissão e voltou às ruas “porque o lucro é igual”.Evandro, alagoano de 23 anos e “mais de três” de profissão (ele não diz exatamente quando começou), confirma que há mesmo uma preferência, entre muitos clientes, por rapazes mais jovens. Ele conta que, em sua idade atual, já está “ficando velho” para o trabalho e que, quanto mais novo for o garoto, maior a quantidade de clientes que poderá conseguir.Bolsa de valoresO valor cobrado pelos programas também é uma informação, até certo ponto, muito inexata. Embora possamos admitir um teto de R$ 30 para os garotos da Praça da República e uma faixa de R$ 50 a R$ 60 para os que ficam nas ruas próximas, estes valores são, na verdade, uma média, e não uma base ou um teto propriamente ditos.O preço do serviço pode variar muito, dependendo do que o cliente pede e, principalmente, da situação financeira que ele deixa transparecer. Evandro e Edmilson, por exemplo, os dois últimos garotos mencionados, admitem que podem cobrar até R$ 200 e até R$ 100, respectivamente, baseando-se em fatores como modelo do carro, aparência física, roupas, jóias (sobretudo no caso de mulheres) e equipamentos como celular, CD-player, etc., que ostentem uma condição financeira mais privilegiada.Embora tenha menor influência, o tipo de serviço também conta pontos. Indagado sobre quanto cobraria para uma sessão de sexo oral, Nick, 18 anos, que atua na Praça da República, respondeu que pediria R$ 10. Para uma relação sexual completa, “aí, o valor sai mais caro, né?”, respondeu. Há, porém, espaço para negociação. Alex, um maranhense de 30 anos que atua na Rua do Arouche, dá alguns preços que costuma cobrar e que usa como base para negociar com os clientes: “R$ 40, R$ 50, R$ 60, R$ 80... Eu peço. Se o cara disser que não tem, que tem tanto, aí eu vejo. Se eu quiser, eu vou”.É mais provável, entretanto, que a noite renda bem mais do que se espera, especialmente se houver uma clientela cativa com um poder aquisitivo maior. Evandro, que atua na Rua Rêgo Freitas, estabelece um perfil médio de seus clientes: “homem, executivo, bissexual, uns 40 anos, casado e com filhos. Vem aqui quando a esposa não está em casa ou está viajando”, diz.Por sua vez, os mesmos índices usados para estabelecer as diferenças entre um cliente mais rico de outro mais pobre, especialmente a aparência física, também contam pontos para selecionar a clientela: todos os garotos entrevistados admitem fazer algum tipo de seleção, havendo pessoas com quem não saem em nenhuma situação.Alternativa ao desempregoComo se pode supor, o desemprego e as dificuldades financeiras aparecem como os principais motivadores para um rapaz se tornar garoto de programa. Segundo dados do IBGE publicados em outubro, a taxa de desemprego na Grande São Paulo é a maior dos últimos 20 anos – 9,4% – e, no restante do País, a média já chegou a 7,6% em setembro**.Desde Klau, no início da matéria, todos os garotos mencionados até agora, à exceção de Edmilson, disseram optar pela prostituição por problemas com as finanças. A história é padrão: numa situação de aperto em que não há trabalho ou o valor dos vencimentos não é capaz de sustentar o custo de vida, a prostituição aparece como uma opção real, seja como fonte principal ou como complemento de rendaNão é à toa. Uma conta simples demonstra que, fazendo dois programas por noite – sem considerar o final de semana –, e admitindo que cada um dura em média de uma a duas horas, um garoto de programa pode ganhar, mensalmente, mais de R$ 2 mil por cerca de 20 horas de trabalho semanais. É esse o valor que o próprio Edmilson diz acumular em um mês, entre ruas e saunas – onde também atua –, considerando que não comparece todos os dias.A forma de entrar no mercado do sexo, nas ruas, é padrão: travar contato com michês que já estejam no local e não ocupar o ponto de outro. Em alguns casos, como na Rua do Arouche, o processo é mais simples. Segundo Alex, que faz ponto ali, bastou chegar, conversar com os garotos mais antigos e arranjar seu espaço. Na Rêgo Freitas, porém, é preciso ser apresentado por alguém. “Se não for amigo ou conhecido de ninguém e se ninguém apresentar, não fica”, diz Evandro.A prostituição também pode servir como porta de entrada para o exterior. Evandro conta que um amigo seu, também michê, foi para Portugal, e Edmilson, por sua vez, já tem uma proposta, feita por um cliente, para trabalhar como go-go boy (espécie de dançarino de casas gays) em Berlim. Soma-se a isso o fato de São Paulo ainda ser considerada atraente em termos de possibilidade de melhoria de vida. Foi com este espírito que Klau, Edmilson e Evandro, todos migrantes, se deslocaram para a capital.Identidade de gênero“Ativo ou passivo?” Para esta questão, a resposta, na maioria das vezes, é taxativa: “ativo!”. No máximo, “ativo liberal”. Segundo W., o único cliente que concordou em conceder entrevista, há uma divisão informal no espaço geográfico quanto à predileção do papel sexual. A Rua do Arouche concentraria os garotos somente ativos (que penetram durante a relação sexual) , ao passo que na Rêgo Freitas, a possibilidade de encontrar passivos (que são penetrados) é bem maior. No restante, diz ele – e mesmo em regiões da Rêgo Freitas –, acham-se os “ativos liberais”, como se autodenominam os que executam ambos os papéis.W., 36 anos (ele não revela sua profissão), diz que é ativo e, por isso, recorria bem mais à Rua Rêgo Freitas. Hoje, por manter um relacionamento estável com um rapaz, não sai mais em busca dos serviços dos michês, mas adverte: “encontrar passivos declarados não é tão fácil. A maioria diz sempre que é ativo, quando muito, ‘ativo liberal’ – mas, se você der uma forçadinha, acaba saindo com muitos deles, até mesmo alguns que ficam no Arouche” , o que pudemos confirmar posteriormente.A rejeição da passividade é explicada pela identificação com o papel da mulher, segundo Alessandro Soares da Silva, 29 anos, doutorando em Psicologia Social pela PUC-SP. Para ele, o homossexual passivo, na cultura brasileira, é identificado com o gênero feminino, que é considerado inferior na sociedade machista. Assim, o passivo é visto como abdicando de sua masculinidade, de sua condição de “macho”, para se auto-inferiorizar. Portanto, sofre maior carga de preconceito e discriminação, não raro da pessoa com relação a si própria.Silva ressalta ainda que, no Brasil, às vezes sequer o ativo é considerado homossexual, mas um “homem que penetra homossexuais”, ao que é dado maior valor. Este valor aumenta se o sujeito for um bissexual que, ainda que esporadicamente, mantenha relações com mulheres.Alex, o maranhense da Rua do Arouche, poderia encaixar-se neste perfil. Ele ressalta que sua preferência é por mulheres e, mais de uma vez, quis deixar claro que é somente ativo e que não beija seus clientes, ao contrário do que outros michês fazem. Ele, assim como Klau, também titubeou ao admitir que gosta de se relacionar com homens. Mesmo em se tratando de “ativos liberais”, é comum que os garotos repitam que preferem muito mais ser ativos, numa identificação não-casual com o estereótipo masculino.

* os nomes fornecidos, todos sem sobrenome, são os utilizados no ambiente de trabalho e, portanto, eventualmente podem ser falsos. No caso de clientes, a publicação do nome não foi autorizada.

- Folha de S. Paulo, edição de 24/10/2002. -